23 julho 2011

Meia Noite em Paris



Foi assim pra mim, a experiência de ver Meia Noite em Paris. O filme acabou e ficamos, eu e uma senhora já de certa idade, do outro lado do cinema, meio que dançando internamente, uma vontade de que o filme não acabasse. A certa altura, ela começou a cantar e eu achei que eu sairia dançando até chegar em casa, incapaz de sair do espírito de encantamento e fantasia que ele nos propõe.

Quem nunca quis saber como seria viver em determinada época, sem os filtros de historiadores ou livros?  Woody Allen concretiza esse desejo, numa espécie de irrealidade fantástica e sedutora, uma viagem dos sonhos. Sem entender como, um escritor que esperava de Paris uma inspiração para seu romance, acaba capturado pela possibilidade de partir todas as noites para uma viagem no tempo, para a companhia de vários de seus ídolos literários e artísticos.


Zelda e Scott Fitzgerald
Adrien Brody como Salvador Dalí

Além de transitar, dividido pelo desejo de estar em duas épocas diferentes, o personagem conhece de perto o que passa na cabeça de uma das personagens: o que ela queria, de fato, era ter nascido em outra época, não nos agitados anos vinte, onde o tempo era acelerado demais e ninguém mais conseguia ter momentos sem pressa (!). A Belle époque, sim, é que devia ser perfeita. 

Essa sensação de que a grama do vizinho é mais verde é tão parte da vida quanto a curiosidade de como teria sido se... Bem sábio o ditado que diz que Se é a religião dos loucos, ou ainda, quem anda pra trás é siri.  O passado é sempre muito mais glamouroso do que o presente. Quem nunca ouviu um na minha época é que era bom! ou teve a sensação de ter nascido na época errada? Talvez todos tenhamos que enfrentar o presente, num ponto semelhante em qualquer época: a vida nem sempre é como poderíamos pintar num cenário cristalizado, onde controlaríamos tudo e perceberíamos todas as nuanças - o que só é possível, quando é, ao olhar para o passado. 

A própria percepção da minha experiência com o filme - que já vi há mais de uma semana - está assim, definida, terminada, pintada com as cores mais belas da memória: do que me lembro com mais força é a vontade, irresistível, de dançar.



7 comentários:

Malu Andrade disse...

stellinha

lindo texto!

Stella Ramos disse...

Minha querida,

vindo de você, especialmente, me deixa muito feliz! Sou fãzoca do Cenas!

Beijo e saudade!

Marcelo Maluf disse...

Stella Caríssima!
Assim como você, eu estou a dançar até hoje. Você traduziu com muita sensibilidade uma sensação que o filme me deu. Que lindo, que fantástico, o seu texto faz muita justiça a película! Gracias!
Beijo enorme
Maluf

Stella Ramos disse...

Querido,

Que saudade! E que gostoso receber sua visita aqui.

Vamos combinar um almoço gostoso, sem pressa?

Beijos pra você e pra linda da Dani!

05julho disse...

Querida. Ainda não vi o filme e já estava curiosa. Agora estou mais ainda...
Seu texto é lindo... e bem real: acho que todos queremos viver em outro tempo, em outro local, às vezes viver outra vida, porque de longe não vemos os problemas. Talvez a gente precise mesmo é ver o NOSSO presente com mais encantamento.
Um vez no CCBB, numa conversa banal quando estávamos "cumprindo nosso temmpo no espaço", o Maluf me disse que a gente precisa ver mais POESIA na vida... Não sei se ele tem consciência de como isso reverbera em mim até hoje! Infelizmente ainda não tenho esse olhar incorporado, mas tento isso a cada dia.

Beijocas

Chris

Cláudia Nascimento disse...

Que lindo Stella! Eu já estava com vontade de ver este filme, agora então... compatilho com essa sensação de ter nascido na época errada, mas cada dia parece que se fortalece o sentimento de que não haveria época mais certa para eu estar presente neste planeta do que agora. Beijos, Cláu

Thomaz Napoleão disse...

Querida, adorei também o filme, um dos mais encantadores do Woody, e na hora imaginei que você teria gostado também! Acho que cinema requer mesmo um pouquinho de escapismo, um pouco de sonho, um pouco de impossível. E nada é mais impossível que voltar ao passado, afinal.