28 fevereiro 2011

Poesia



Segunda feira é dia de cruzar territórios. Transitar entre esferas, iniciar mais uma vez o balanço que equilibra ritmos e sensações bem distintas. Silêncio e excesso. A minha, hoje, foi especialmente mais difícil. Como numa celebração de ano novo, retomei uma tão querida rotina de cinema, e só a idéia de que me entregaria em breve ao outro mundo foi responsável pela dificuldade em pisar neste. Mal sabia o que me esperava.

Escolhi Poesia, um filme sul coreano, do diretor Chang-dong Lee. Certa de que era exatamente esse o território que eu queria reconquistar, cruzei a chuva à espera da redenção. Nessa mesma busca encontrei a personagem principal, uma senhora que dança à procura de um equilíbrio entre seu intenso mundo interior e a realidade externa, que vai se mostrando mais e mais dura, ao mesmo tempo em que descobre e passa a freqüentar aulas de poesia. Olhe, diz seu professor, para a Poesia o principal é saber olhar. E ela passa a olhar o mundo com intensidade, alternando sem muito controle as sínteses poéticas mais puras com os acontecimentos mais duros. O filme apresenta singelas e constantes metáforas visuais, como um banquete delicado. A cena em que seu chapéu voa na direção do rio, junto com as memórias que ela começa a perder é belíssima. Apesar disso, não se iluda: é um filme de beleza dura, sofrida.

Filme para não perder, certamente, mas no cinema - você vai precisar de ajuda para cruzar o caminho de volta.

27 fevereiro 2011

O discurso do Rei


Vi apenas três dos indicados ao Oscar. Se eu fosse do juri teria escolhido Toy Story3, um filme genial, mas isso nem vem ao caso. Ganhar ou não o Oscar não modificou minhas impressões. Achei O discurso do Rei um filme belo, delicado, simples. Um filme de silêncios significativos, tensos, de aproximações lentas. A construção da amizade entre os dois personagens principais traz tantas nuanças que mais parece uma coreografia, um passo pra frente, dois pra trás, piruetas em que os dois se observam e medem seus movimentos. Além de toda a questão da passagem da imagem da realeza, antes estática e agora em movimento e som, prenúncio da espetacularização que vivemos hoje, fiquei pensando no que escolhemos dizer, nesse silêncio que existe entre a vida íntima dos nossos pensamentos e a sua concretização em som, palavras, idéias.