21 maio 2011

Incêndios

Há certas experiências impossíveis de compartilhar. Como narrar uma vida com a  intensidade do tempo presente? O que herdamos de nossos antepassados sem  saber, mesmo quando não os conhecemos?

O que dizer de Incêndios, filme canadense do diretor Denis Villeneuve? Com um enredo magnético e uma abordagem bem direta da violência expressa em várias instâncias, nos conta a história de uma mulher com experiências de vida, no mínimo, intensas. A partir da leitura de seu testamento aos seus filhos gêmeos, o filme apresenta um mistério, uma incongruência, uma pulga atrás da orelha que nos acompanha até o fim, quando o surpreendente final que antes tinha sido apenas sugerido, grita. Não há mais tempo de tapar os ouvidos.

Além da trama, passamos a conhecer esta mulher intensa em todas as facetas da sua feminilidade, que enfrenta corajosamente a intolerância, o preconceito, o medo e a ignorância, pais da violência. À medida em que acompanhamos seus filhos na jornada ao seu passado desconhecido, refazemos, junto com eles, os passos que os trouxeram até aqui, numa busca comovente por um segredo desconcertante. 


Incêndios tem o título que lhe cabe melhor. Queima os olhos, os ouvidos, o estômago, e nos lembra que é impossível passar ileso diante da experiência de estar vivo. Os irmão mergulham, cegos, num mundo inteiramente desconhecido, tentando apreender uma vida inteira a partir de fragmentos que podem apenas sugerir caminhos, rastros quase apagados de uma existência. A revelação vem de uma equação que não fecha, tão espantosa quanto podem ser os encaminhamentos da trajetória de cada um.



2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, Stella, também achei o filme de uma força extraordinária. Essa violência do passado que invade as vidas presentes às vezes parece absurda. Até mesmo o próprio passado, quando se debruça de novo parece aterrador. O desempenho da atriz que faz a mâe é impressionante, contido e emocionado ao mesmo tempo. Fico me perguntando sobre os critérios do Oscar, ela o merecia mais do que ninguém. Alberto.

Stella Ramos disse...

Alberto, também fiquei assombrada com a interpretação dela.

Só acho que o diretor podia ter deixado o final sugerido. Para bom entendedor, meia pá bá. Mas adorei o filme, sem dúvidas.

Bj,