Segunda feira é dia de cruzar territórios. Transitar entre esferas, iniciar mais uma vez o balanço que equilibra ritmos e sensações bem distintas. Silêncio e excesso. A minha, hoje, foi especialmente mais difícil. Como numa celebração de ano novo, retomei uma tão querida rotina de cinema, e só a idéia de que me entregaria em breve ao outro mundo foi responsável pela dificuldade em pisar neste. Mal sabia o que me esperava.
Escolhi Poesia, um filme sul coreano, do diretor Chang-dong Lee. Certa de que era exatamente esse o território que eu queria reconquistar, cruzei a chuva à espera da redenção. Nessa mesma busca encontrei a personagem principal, uma senhora que dança à procura de um equilíbrio entre seu intenso mundo interior e a realidade externa, que vai se mostrando mais e mais dura, ao mesmo tempo em que descobre e passa a freqüentar aulas de poesia. Olhe, diz seu professor, para a Poesia o principal é saber olhar. E ela passa a olhar o mundo com intensidade, alternando sem muito controle as sínteses poéticas mais puras com os acontecimentos mais duros. O filme apresenta singelas e constantes metáforas visuais, como um banquete delicado. A cena em que seu chapéu voa na direção do rio, junto com as memórias que ela começa a perder é belíssima. Apesar disso, não se iluda: é um filme de beleza dura, sofrida.
Filme para não perder, certamente, mas no cinema - você vai precisar de ajuda para cruzar o caminho de volta.
Um comentário:
i, Stella!
Pra mim ela parece a Hello Kit na terceira idade!
No Low-fi Words escrevi sobre o Hitchcock. Está na home. Me conta se tá legal?
Da fato, POESIA requer um olhar árduo: ora bruto, ora leve, bastante infinito. Foi um filme q eu queria ter gostado mais. Preciso revê-lo.
Vc assistiu Tio Boonmee? É o q mais gostei este ano e em muito tempo.
Bjs!
Flávio
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